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Luto não reconhecido

Atualizado: 6 de set.

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Quando a Dor é Invisível aos Olhos do Mundo


Esses dias tenho refletido mais profundamente sobre o luto, mais especificamente o luto não reconhecido.

 

Luto: o amor que fica


Antes de falar sobre o tema central deste texto, gostaria de te convidar a uma breve reflexão sobre esse processo que denominamos “luto”.

Um nome tão curto para uma vivência tão intensa, extensa, profunda e dolorosa.

Inevitável para quem fica... para quem ama.


Saudade, vazio, dor, sentimento de desamparo, são tantas as sensações, sentimentos, emoções e pensamentos que tomam conta de nós nesse momento de pesar.


A vida é impermanente, assim como tudo que há nela.

Aceitar essa finitude não é nada fácil.

Com o tempo, a dor vai cedendo espaço ao amor.

O vazio se preenche com as boas lembranças.

A saudade se torna a certeza do reencontro, dentro.

 

“A saudade eterniza a presença de quem se foi. Com o tempo, esta dor se aquieta, se transforma em silêncio que espera, pelos braços da vida um dia reencontrar.”

Padre Fábio de Melo

 

O que é o luto?


Luto é um processo natural e necessário de reorganização emocional, mental, físico e espiritual que vivenciamos diante de perda ou ruptura, seja por morte, separação, demissão ou encerramento de ciclos importantes.

A palavra “luto”, por si só, nos remete à ideia de morte, de separação, de fim.

 

Ao nos depararmos com a notícia de que alguém querido faleceu, vivenciamos quase que instantaneamente um turbilhão de emoções e sensações: choque, trauma, sentimento de perda gerado pela sensação do “nunca mais” e, muitas vezes, arrependimentos e culpas.

É comum vivermos também irritabilidade, raiva, desânimo ou negação.


É um processo complexo e de difícil definição, cada um o viverá de forma única e pessoal, influenciado por sua cultura, meio em que vive, sistema de crenças e valores e o contexto em que a morte ocorreu.

Até mesmo dizer a palavra é difícil, são muitos nomes para um mesmo evento: morte, desencarne, falecimento, desligamento, desenlace, perda, luto etc. Preferimos não dizer, não olhar ou negar, como se fosse possível nos proteger da dor.

 

Mas não há fuga. É a única certeza da vida.

Não sabemos quando, como ou onde, mas sabemos que um dia ela chega para todos.

 

Até mesmo escrever sobre o assunto é desafiador para mim. Alguns medos, tristezas, saudades e angústias vêm à tona. Porém, tenho consciência de que encarar, aceitar e até ressignificar o que essa “finitude” representa é muito importante para a nossa saúde mental e emocional.

 

O que é o luto não reconhecido

 

Você sabe o que significa este tipo de luto?

Ele é considerado não reconhecido quando a dor da perda não encontra acolhimento no meio social e a pessoa não consegue expressá-lo.

Costuma ser muito sofrido porque não há validação, compreensão e empatia.


É uma dor que se sente só.

 

Exemplos de luto não reconhecido:


  • Perda de um animal de estimação

  • Relações afetivas fora dos padrões sociais

  • Fim de uma amizade ou relacionamento amoroso

  • Gravidez interrompida

  • Demissão ou aposentadoria

  • Fim de uma fase ou ciclo da vida

 

Naturalmente, nossa tendência é validar a dor apenas em perdas "oficiais": cônjuges, filhos, pais, familiares próximos e amigos inseparáveis. Mas vínculos afetivos reais se formam em muitos outros contextos, e quando se rompem, há luto sim.


Quem convive com um animalzinho de estimação sabe o quanto eles passam a fazer parte da família e ocupam um lugar muito especial em nossa vida e coração. Sim, sabemos que eles tendem a viver menos tempo que nós, mas isso não faz com que a dor de sua partida seja menor.


Outro dia uma pessoa me procurou dizendo que sua cadelinha havia falecido. Ele estava muito triste e me disse: “Vim te contar porque sei que você entenderia, pois também tem pets.”

Talvez, com outras pessoas que não compartilham dessa convivência, ele não tenha se sentido compreendido ou acolhido.


Reconhecer o luto é, muitas vezes, uma forma de honrar o elo de ligação e de amor estabelecido durante aquela vida.

 

 

Quando o luto não pode ser expresso

 

E quando o luto está vinculado a um relacionamento não aceito pela sociedade?


Recentemente, uma pessoa me procurou com sintomas de tristeza profunda e desmotivação que acreditava ser devido a um processo depressivo. Ao longo dos atendimentos, identificamos que havia ali algo mais que uma simples fase difícil: tratava-se de um luto não reconhecido.


Alguns anos antes, ela havia vivido um relacionamento amoroso muito intenso com um homem que estava em processo de separação. Por respeito à situação familiar dele, o relacionamento foi mantido em segredo.

Após alguns meses, por motivos que não cabem eu trazer aqui, ela compreendeu que ele não tinha condições emocionais de finalizar a separação. Assim, mesmo tendo certeza de seu amor, se afastou e o deixou livre.


Esse foi seu primeiro luto em relação a ele. O fim do relacionamento, o adeus ao não vivido.

Ela viveu essa dor sozinha, pois “oficialmente”, aquele amor não existia.


Alguns anos depois, ela soube do falecimento dele por meio de um amigo em comum. Foi um momento desesperador para ela. Além de toda a dor do luto, não teve com quem compartilhar sua tristeza. Afinal, seu papel na vida dele não era reconhecimento socialmente.

 

Você pode se perguntar: Mas por que precisa de reconhecimento?


O reconhecimento envolve acolhimento, compreensão, um espaço para expressar sentimentos e emoções. Como se alguém dissesse: “Você tem o direito de sentir o que está sentindo.”

Mais uma vez, ela sentiu que tinha que seguir a vida, dar conta e chorar sozinha. Não se sentia autorizada a viver aquele luto.


Acontece que nossos sentimentos e emoções existem, mesmo quando não reconhecidos ou autorizados, e até ganham força quando não encontra espaço de expressão.

E foi assim, em nossas conversas, que ela se abriu para reconhecer seu direito de viver o luto pela perda de seu grande amor.


Quando o luto é negado

O luto não reconhecido pode se transformar e se apresentar como depressão, ansiedade ou doenças psicossomáticas. A dor não desaparece, ela se camufla e se acumula.


O processo de luto normalmente passa por cinco fases:

negação, raiva, barganha ou negociação, depressão e aceitação.

 

Não há uma ordem linear para estes estágios, eles podem ser vividos em diversas ordens e algumas fases podem se repetir.

Cada pessoa percorre essas etapas de forma singular. Mas a aceitação é a última fase do luto, pois é onde começamos a compreender a nova realidade.

Mesmo com saudade e tristeza, a angústia e o desespero já estão mais elaborados. Os sentimentos se tornam mais brandos, a saudade se torna uma lembrança boa e menos dolorida e vamos aprendendo a conviver com a nova situação.


Aceitar a morte é também aceitar a vida como ela é.

 

Um convite ao sentir

Permita-se sentir o que sente.

Mesmo que ninguém entenda.

É seu direito viver o luto.

Não permita que te digam o que você deve ou não sentir.

Busque ajuda, se perceber que o processo está pesado demais.

Isso não é fraqueza, muito pelo contrário, é coragem.

Só você sabe o tamanho do amor e da dor em seu coração.



Um texto para inspirar:

 

“Imagine que está à beira mar e vê um barco partindo.

Você fica olhando enquanto ele vai se afastando, cada vez mais longe, até que finalmente parece apenas um ponto no horizonte... lá onde o Mar e o Céu se encontram.

Então você diz - Pronto, ele se foi.

Foi aonde?

Foi a algum lugar que essa vida não alcança, somente isso.

O barco continua tão grande, tão bonito e tão importante como era quando estava perto de você!

A dimensão está em você, não nele.

E naquele exato momento que você está dizendo: - Ele se foi.

Há outros olhos vendo-o se aproximar e outras vozes exclamando com amor:

- Ele está chegando!“

Henry Sobel



Com amor,

Susy Brito



Você pode se aprofundar no assunto com meu artigo no Guia da Alma:






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